Energysquare faz da recarga sem fio uma realidade
Catherine Jewell, Divisão de Informação e Divulgação Digital, OMPI
Fundada em 2015 por três jovens empresários franceses, Daniel Lollo, Matthieu Poidatz e Timothée Le Quesne, a Energysquare está reinventando a maneira de carregar aparelhos eletrônicos. A Power by Contact®, sua tecnologia de carregamento sem fio, oferece uma solução inteligente para carregar vários dispositivos ao mesmo tempo. A Power by Contact® tem o mesmo desempenho dos carregadores convencionais, otimiza o uso de energia e significa que em breve poderemos dizer adeus ao emaranhado de cabos que usamos para carregar nossos aparelhos eletrônicos.
A empresa desenvolveu um modelo de negócio baseado em sua expertise e seu know-how. Graças a um vasto portfólio de patentes, está licenciando sua tecnologia premiada para grandes fabricantes internacionais de eletrônicos.
Em 2020, a Energysquare firmou sua primeira parceria tecnológica com a Lenovo, um gigante da eletrônica. O CEO da empresa, Timothée Le Quesne, conta-nos a experiência de levar sua tecnologia ao mercado.
Você não pode licenciar uma tecnologia se não for o proprietário e se ela não for protegida e gerenciada de forma eficaz.
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Diferentemente das soluções de carregamento por indução atualmente disponíveis no mercado, a Power by Contact® opera por condução, ou seja, a carga é feita por contato direto entre o aparelho e a superfície. Assim, a carga é mais eficiente, porque não há interferência, nem superaquecimento ou perda de energia. As velocidades de carregamento são semelhantes às dos métodos tradicionais.
A Power by Contact® é um concentrado de microeletrônica avançada e algoritmos. Com esta solução, os usuários podem carregar todos os seus aparelhos eletrônicos simultaneamente em uma mesma superfície, sem ter de procurar o cabo ou adaptador certo. A Power by Contact® é a primeira tecnologia que permite o carregamento sem fio de laptops. Também dá aos usuários acesso a dados sobre quais aparelhos estão sendo carregados, quando e onde.
O que fez com que você criasse a Power by Contact®?
Ao longo da última década, assistimos a um crescimento fenomenal do número de pequenos aparelhos eletrônicos alimentados por bateria e, com isso, um aumento do número de cabos que utilizamos todos os dias para carregá-los. A tecnologia deveria facilitar nossa vida, mas o emaranhado de cabos necessários para carregar nossos aparelhos eletrônicos – consequência da má ergonomia do design – criou uma experiência medíocre para os usuários. Para sanar o problema, começamos a desenvolver uma tecnologia de carregamento sem interrupção que permite que os usuários liguem facilmente seus dispositivos, sem a necessidade de, para tanto, encontrar e conectar o cabo certo.
Que desafios você enfrentou para entrar no mercado de eletrônicos?
Não é fácil convencer os grandes atores do adotarem a adotarem uma nova tecnologia. Além disso, levar a tecnologia do laboratório à produção em massa é sempre um desafio. Passamos anos desenvolvendo uma tecnologia que atendesse aos mais altos padrões industriais e às necessidades dos fabricantes de aparelhos eletrônicos.
Também tivemos de lidar com ciclos de venda longos. Outro grande desafio é introduzir uma nova tecnologia em produtos como celulares e laptops, que envolvem processos de produção complexos.
Como licenciamos nossa tecnologia para fabricantes – na verdade não vendemos nenhum produto – tivemos que criar um serviço de transferência de tecnologia robusto. Isso exigiu um foco particular na proteção e gestão de nossos ativos de propriedade intelectual (PI). Afinal, você não pode licenciar uma tecnologia se não for o proprietário, e se ela não for protegida e gerenciada de forma eficaz.
Em que momento você percebeu a importância da propriedade intelectual para sua empresa?
Quando começamos a cogitar o licenciamento de nossa tecnologia para clientes, percebemos que precisávamos de um sólido portfólio de patentes. Nossa capacidade de proteger nossa P&D do princípio ao fim é fundamental para nosso modelo de negócio e, por isso, desenvolvemos um portfólio de direitos de PI robusto. Percebemos que não basta ter patentes e que certa- mente não constituem a única maneira de elaborar uma boa estratégia de PI. Assim, desenvolvemos uma abordagem holística. Nosso portfólio engloba uma grande variedade de direitos de PI, dentre os quais patentes, marcas, segredos comerciais e direitos de autor.
Como você está usando os direitos de PI e como eles estão ajudando sua empresa?
Em nosso esforço para criar o próximo padrão de carregamento, decidimos construir a empresa em torno de um modelo de negócio de licenciamento para que o maior número possível de fabricantes de dispositivos possa adotar nossa tecnologia. Os direitos de PI estão no cerne de um modelo de negócio de licenciamento e são essenciais para convencer e proteger tanto os clientes quanto os investidores.
Investimos no desenvolvimento do nosso portfólio de patentes desde muito cedo. A PI é primordial para todas as nossas decisões estratégicas, comerciais e técnicas. Sempre nos beneficiamos do apoio de especialistas externos em PI, mas, em setembro de 2020, decidimos trazer a expertise para dentro da empresa. Nossa nova diretora de PI, Catalina Olivos, agora trata das diversas questões relativas à PI, garantindo que nossa estratégia de negócios e nossa PI estejam totalmente alinhadas e sejam complementares. Toda mudança em nossa estratégia de negócios deve ser seguida por uma mudança estratégica em termos de PI.
Qual foi o maior desafio que você enfrentou na elaboração do portfólio de PI?
O maior desafio que enfrentamos foi o financiamento do nosso portfólio de patentes, particularmente quando se tratou de proteger nossa tecnologia em outros países. Tivemos uma situação semelhante à questão do ovo e da galinha: para pagar por nosso portfólio de patentes, precisávamos do financiamento dos investidores, mas os investidores precisavam ter certeza de que nossa tecnologia estava bem protegida antes de nos financiar. Este é um desafio que todas as empresas jovens enfrentam. No nosso caso, graças ao apoio de instituições francesas, especialmente a France Brevets, pudemos avançar. Eles viram o potencial da nossa ideia e nos apoiaram na realização do nosso sonho.
O que os institutos de PI podem fazer para ajudar empresas como a Energysquare?
Os institutos de PI desempenham um papel crucial, especialmente em termos de apoio e incentivo para que as jovens empresas invistam em PI. As startups muitas vezes se veem presas em um círculo vicioso: sem PI ninguém quer investir nelas, mas sem investimento é impossível implementar uma estratégia de PI e assegurar a sobrevivência da empresa. Gostaríamos de destacar o trabalho do Instituto Nacional de PI da França (INPI). Somos beneficiários do programa PASS PI do INPI, que fornece apoio financeiro às PMEs e presta assistência em áreas de interesse destas empresas, como o desenvolvimento de cenários tecnológicos, consultoria especializada em contratos e registro de direitos de PI. Neste sentido, todo apoio que os institutos de PI possam oferecer aos empresários e inovadores para orientá-los nas fases iniciais de seu desenvolvimento é sempre bem-vindo.
Quais são as principais lições que você tirou da experiência?
O investimento precoce em PI gera valor exponencial nas etapas seguintes. A estratégia de PI é uma abordagem estrutural e de longo prazo que precisa ser implementada logo no primeiro dia. No início, parece insensato investir tanto tempo e dinheiro em algo que não oferece retorno imediato, mas quando você se senta para negociar com uma grande empresa, fica muito feliz por ter investido em seu portfólio de PI. É impossível atrair o interesse de um grande investidor, se você não tiver protegido suas inovações e criações, e se sua estratégia de PI não estiver voltada para o futuro.
O investimento precoce em PI gera valor exponencial nas etapas seguintes. A estratégia de PI é uma abordagem estrutural e de longo prazo que precisa ser implementada logo no primeiro dia.
Por que, para as PMEs, é importante se concentrar na PI?
Em determinados mercados, a PI é a única maneira de competir com os gigantes da tecnologia, que dispõem de uma potência comercial e de marketing muito superior. Optamos por não produzir nossa tecnologia, mas sim licenciá-la. Sem a PI, nossa empresa não existiria e não seríamos capazes de competir. Nossa atividade principal é nossa tecnologia, nosso know-how e nossas marcas. Como muitas outras startups, enfrentamos muitas dificuldades e tivemos que investir muito. Mas agora que nosso produto está sendo lançado por uma das maiores empresas do setor de laptops, sabemos que tomamos a decisão certa. As startups e as PMEs geralmente se desenvolvem a partir de inovações que são o resultado de pesquisas e descobertas que, na maioria das vezes, mudam nossas vidas. Estes esforços devem ser protegidos para que as empresas possam ter um retorno equivalente por todo o tempo, a energia e os gastos que foram necessários para desenvolvê-los.
Em determinados mercados, a PI é a única maneira de competir com os gigantes da tecnologia, que dispõem de uma potência comercial e de marketing muito superior.
Que conselho você daria a outras PMEs em matéria de PI?
Invista na PI desde o primeiro dia. É difícil, mas necessário para poder avançar. E não invista apenas em patentes, pense em proteger suas marcas. Elas desempenham um papel fundamental para desenvolver o marketing da sua empresa. Se escolher o nome errado, você pode encontrar muitas dificuldades para protegê-lo em outros países.
Quais são seus planos para o futuro?
Temos muitos planos. No que se refere à PI, estamos implementando uma estratégia abrangente para cobrir tudo, desde a fase de pesquisa até a fase de marketing. Estamos sempre imaginando novos recursos e aplicações para nossa tecnologia e explorando novos mercados. Estamos muito empolgados com o lançamento dos produtos dos nossos primeiros clientes em 2021.
Apesar da crise decorrente da Covid-19, conseguimos continuar o nosso trabalho de P&D. Muitos novos aprimoramentos estão a caminho, mas não podemos falar sobre isso enquanto as patentes não tiverem sido publicadas. Nosso objetivo a curto prazo é desenvolver tecnologias de carregamento e conectividade sem cabo para estações de trabalho e salas de reunião. A longo prazo, a meta é que nossa tecnologia seja o padrão de carregamento sem fio no espaço de trabalho e para outras aplicações.
A Revista da OMPI destina-se a contribuir para o aumento da compreensão do público da propriedade intelectual e do trabalho da OMPI; não é um documento oficial da OMPI. As designações utilizadas e a apresentação de material em toda esta publicação não implicam a expressão de qualquer opinião da parte da OMPI sobre o estatuto jurídico de qualquer país, território, ou área ou as suas autoridades, ou sobre a delimitação das suas fronteiras ou limites. Esta publicação não tem a intenção de refletir as opiniões dos Estados Membros ou da Secretaria da OMPI. A menção de companhias específicas ou de produtos de fabricantes não implica que sejam aprovados ou recomendados pela OMPI de preferência a outros de semelhante natureza que não são mencionados.