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Mauricio de Sousa Produções: Sucesso em quadrinhos sustentado pela propriedade intelectual

Setembro de 2021

Ceci Almeida, redatora freelance

A Mauricio de Sousa Produções (MSP) foi fundada em 1959 e é amplamente reconhecida como uma das editoras de quadrinhos e animação mais bem-sucedidas do Brasil. Tudo começou quando, em 1959, um dos principais jornais de São Paulo começou a publicar sua primeira história em quadrinhos diária sobre um cão chamado “Bidu” e seu proprietário. A ilustre carreira do autor de histórias em quadrinhos mais conhecido do Brasil, Mauricio de Sousa, de 86 anos completados em 2021, se estende por mais de 60 anos. Criador da mais popular série de quadrinhos do país, a Turma da Mônica, que foi inspirada por seus amigos de infância e seus próprios filhos, Mauricio de Sousa tornou-se um nome familiar para todos os brasileiros.

A propriedade intelectual sustenta o sucesso da MSP

Mauricio de Sousa, criador da mais popular série de quadrinhos
do Brasil, A Turma da Mônica. (Foto: Cortesia da MSP)

A MSP, empresa do cartunista, tornou-se líder no mercado editorial do Brasil, com um portfólio de produtos que se estende muito além dos quadrinhos e inclui filmes animados, espetáculos de palco, parques temáticos, jogos de computador e brinquedos de pelúcia. O licenciamento de direitos de autor e marcas comerciais das personagens de desenhos animados do artista fornece as bases da estratégia de negócios da MSP.

Desde o início, Mauricio de Sousa manteve-se atento à construção de sua empresa. Quando começou a comercializar suas obras impressas, e à medida que seus personagens de desenhos animados ganhavam popularidade, passou a licenciar suas obras para empresas de bens de consumo. A Propriedade Intelectual (PI) tem sido fundamental para a estratégia de negócios do cartunista desde o primeiro dia.

Em 1966, a empresa depositou sua primeira marca registrada no Brasil por seu adorado personagem cômico canino, o cachorro Bidu. Todas as criações da MSP estão agora protegidas pela marca comercial Turma da Mônica, que foi registrada em 20 países na Ásia, na Europa, na América do Norte e na América do Sul.

Ao longo dos últimos 60 anos, Mauricio de Sousa tem se concentrado tanto em seu trabalho criativo quanto em sua atividade empresarial. Os ganhos da empresa dispararam. Desde o lançamento do seu primeiro livro de histórias em quadrinhos, em 1970, a MSP tem criado mais de 400 novas personagens, tendo vendido mais de 1,2 bilhão de revistas em quadrinhos e livros. Gerações de crianças aprenderam a ler graças às aventuras da Mônica, personagem de desenho animado.

Com mais de 300 títulos diferentes, a MSP vende cerca de 2,5 milhões de revistas em quadrinhos todos os meses para um público fiel de 10 milhões de leitores. O setor editorial da MSP emprega cerca de 400 pessoas, das quais 150 são artistas.

Durante a década de 1980, a MSP começou a produzir filmes de longa metragem e séries animadas, o que aumentou ainda mais os retornos financeiros. O seu primeiro filme, As Aventuras da Turma da Mônica, foi seguido por sete outros. As séries animadas da MSP são transmitidas por canais de TV, como o Cartoon Networks e Boomerang, e em todas as plataformas on-line. O site Turma da Mônica tornou-se o principal site infantil no Brasil, com vistas de 1 milhão de páginas diárias.

No YouTube, a MSP tem uma variedade de canais, entre os quais A Turma da Mônica, Mónica y sus Amigos e Monica Toy Official, que são traduzidos para espanhol e inglês.  O canal Turma da Mônica sozinho tem quase 17 milhões de assinantes e alcança 450 milhões de páginas de visualização todos os meses. A MSP também gere o aplicativo de TV Turma da Mônica e oferece uma variedade de jogos. A maioria dos visualizadores – cerca de 66% – vive fora do Brasil: no México, na Federação Russa e nos EUA. A MSP também tem um elevado número de seguidores nas redes sociais Facebook, Instagram, LinkedIn e Twitter.

Embora seus talentos de cartunista e de astuto empresário lhe tenham valido a reputação de “Walt Disney Brasileiro”, Mauricio de Sousa é fortemente sensível às questões sociais. O Instituto Mauricio de Sousa, por exemplo, fez convênios com organizações não governamentais, prefeituras e outras entidades com vista à utilização de seus desenhos animados para promover questões sociais prementes e causas ambientais.

O licenciamento de direitos de autor e marcas comerciais das personagens de desenhos animados do artista alicerça a estratégia de negócios da MSP.

Tirar proveito do valor da marca por meio do licenciamento

Ao longo dos anos, Mauricio de Sousa construiu um próspero império empresarial, tirando estrategicamente proveito do valor da marca de seus personagens de desenhos animados altamente populares.

“Temos licenciado produtos desde a década de 1960. Naquela época, os nossos produtos (personagens de desenho animado) foram licenciados para utilização em vestuário, bonecas e alimentos. Um dos nossos maiores sucessos ao longo dos últimos 40 anos foi o acordo de licenciamento que concluímos com a Cargill para a utilização do nosso personagem elefante Jotalhão, na embalagem do molho de tomate”, explica Mônica Sousa, a filha mais velha do cartunista (que inspirou a criação da personagem Mônica). Ela é atualmente a Diretora Comercial da MSP.

Apesar da competição com personagens da Disney e super-heróis japoneses, as marcas da MSP e em particular A Turma da Mônica são altamente rentáveis quando associadas a uma ampla gama de bens de consumo. Hoje em dia, 90% dos lucros da empresa são originados pelo licenciamento.

Os personagens de Mauricio de Sousa podem ser encontrados em tudo, desde fraldas até móveis, passando por roupas, artigos de higiene, brinquedos e alimentos, inclusive maçãs, melancias e brócolis. Os produtos de consumo da marca Turma da Mônica são os mais vendidos no Brasil. Cerca de 850.000 maçãs Turma da Mônica são vendidas a cada mês, juntamente com tomates e bananas da marca Turma da Mônica, com vendas de 20 e 35 toneladas, respectivamente, por mês.

Entre as empresas que licenciaram as marcas comerciais de Mauricio de Sousa encontram-se grandes empresas, como a Tok & Stok, a Brandili, a Kimberly-Clark, a NISSIN Food Corp., a Fischer Price and Driver Toys. As marcas de personagens de Mauricio de Sousa são licenciadas para uso em cerca de 4.000 artigos de 150 varejistas e fabricantes.

Piratagem

“Investimos muito para administrar nossos direitos de propriedade
intelectual em vários países... Essa proteção de produtos culturais
não só protege os interesses da empresa, mas também protege os
interesses do nosso país e dos nossos fãs”, afirma Mônica de Sousa,
Diretora Comercial da MSP. (Foto: Cortesia da MSP)

Apesar de excelentes resultados comerciais, a piratagem tem sido um problema constante há muitos anos para a MSP, que tem combatido constantemente os falsificadores no Brasil e no exterior.

“Em 16 de fevereiro de 2007, por ocasião da estreia do nosso filme Turma da Mônica – Uma Aventura no Tempo, cópias do filme já estavam sendo vendidas nas ruas do centro de São Paulo, em total desrespeito pela propriedade intelectual”, recorda Mauricio de Sousa.

A MSP investe muito na proteção de seus interesses de propriedade intelectual. Seu departamento jurídico reprime energicamente quaisquer produtos falsificados e pirateados que ostentem suas marcas comerciais sem autorização. “Cada personagem da MSP é uma marca registrada”, diz Mauricio, que observa que os principais personagens da empresa estão registrados em quase todas as classes de bens e serviços em 20 países da Ásia, da Europa, da América do Norte e da América do Sul.

“Investimos muito para gerenciar nossos direitos de propriedade intelectual em vários países. No entanto, o custo do registro com vista à proteção de marcas comerciais ainda é muito alto, especialmente para empresas de médio porte como a MSP. Mas essa proteção dos produtos culturais não só protege os interesses da empresa, como também protege os interesses do nosso país e dos nossos fãs.”

As estratégias da MSP para combater a piratagem e a fraude foram fortalecidas por meio de parcerias estratégicas com outras empresas. Também apoia programas de formação para inspetores aduaneiros, de modo a permitir-lhes identificar e apreender de forma mais eficaz as mercadorias falsificadas. A MSP também colabora com seus parceiros para combater a piratagem através de sua participação na Associação Brasileira de Licenciamento de Marcas e Personagens.

As estratégias da MSP para combater a piratagem e a fraude foram fortalecidas por meio de parcerias estratégicas com outras empresas. Também embasa programas de formação para inspetores aduaneiros, de modo a permitir-lhes identificar e apreender de forma mais eficaz as mercadorias falsificadas.

Sistema de Madri para o Registro Internacional de Marcas Comerciais

A MSP não divulga detalhes sobre seus lucros ou gastos com aquisição e gerenciamento de PI. No entanto, a redução do custo de proteção de marcas registradas para seus personagens, especialmente em mercados internacionais, é um objetivo fundamental para os próximos anos.

Desde a década de 1990, Mauricio de Sousa tem sido um ardente defensor da adesão do Brasil ao sistema de Madri administrado pela OMPI para o Registro Internacional de Marcas Comerciais, o que facilita o processo de registro de marcas em até 125 países.  O Brasil entrou para o sistema de Madri em junho de 2019, e o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) do Brasil começou a processar pedidos de registro de marcas comerciais internacionais sob o sistema a partir de outubro de 2019.

O fato de o Brasil ter aderido ao sistema de Madri trouxe uma nova esperança para a MSP e suas ambições de proteger suas marcas comerciais no plano internacional de forma econômica e dentro dos prazos impostos.

“O Protocolo de Madri é um sistema extremamente positivo que apoia a economia nacional e os intercâmbios comerciais com outros países membros que fazem parte do sistema. Isto nos permitirá impulsionar as exportações e internacionalizar as marcas brasileiras. Também será mais fácil para as empresas internacionais operarem no Brasil, devido à redução dos custos de registro e gerenciamento e à simplificação de todo o procedimento de registro de marcas”, diz Mauricio de Sousa.

O Protocolo de Madrid é um sistema muito positivo que apoia a economia nacional e as trocas comerciais com outros países membros que fazem parte do sistema.

Mauricio de Sousa

Como membro do sistema de Madri, o INPI Brasil examina agora as inscrições de marcas comerciais internacionais no prazo de 18 meses a partir da data de registro do pedido. Também permite que os aplicativos de marcas comerciais sejam registrados em um sistema de várias classes (o que significa que as marcas comerciais podem ser registradas para várias classes de bens e serviços), e que as marcas comerciais sejam registradas ao abrigo de entendimentos de copropriedade, aumentando a flexibilidade das regras locais.

“Acreditamos que veremos os benefícios de nosso ingresso no Sistema de Madri no decorrer dos próximos anos. Ao reduzir a burocracia e os custos, teremos um acesso mais fácil aos países membros, e isto abrirá novas oportunidades de negócios. Estamos muito animados com essas perspectivas”, diz Mauricio de Sousa.

A visão internacional da MSP

Mauricio de Sousa (acima), criador da série em quadrinhos Turma da Mônica e fundador da Mauricio de Sousa Produções (MSP), festejou seus 86 anos neste ano. A empresa fundada em 1959 é uma das editoras de quadrinhos e animação mais bem-sucedidas do Brasil. (Foto: Cortesia da MSP)

A MSP tem se concentrado em vários mercados em países asiáticos, entre os quais a China, a Indonésia e o Vietnã, nos quais a empresa está operando há 18 anos. Tem planos ambiciosos para o Japão, onde criou uma filial e também, além de seu licenciamento de personagens para produtos locais, está preparando novas parcerias com outros produtores de bens culturais.

“Vivemos numa sociedade global e a colaboração abre novas perspectivas para as marcas. Os custos de produção em animação para plataformas digitais são desafiadores, e as parcerias nos tornam viáveis o lançamento de novos produtos e conteúdos que atendam às demandas do nosso público”, explica Mauricio.

O mercado asiático é fundamental para as ambições da MSP de vir a se tornar um concorrente internacional competitivo.

O futuro é digital

Voltada para o futuro, a MSP pretende internacionalizar ainda mais seus produtos culturais e vê a mídia digital como o veículo para alcançar essa ambição.

“Vemos a MSP se tornando uma empresa mais digital e internacional, sem negligenciar ou abandonar nossas raízes brasileiras e contar histórias, que está em nosso DNA. Nos últimos anos, vários dos nossos personagens tornaram-se globais, trazendo os nossos produtos culturais para novas regiões do mundo”, explica Mauricio.

No entanto, as ambições digitais da empresa suscitam desafios comerciais significativos, em particular quando se trata de proteger suas criações no universo on-line. Pesquisas estimam em cerca de 30 milhões de visualizações de histórias em quadrinhos pirateadas todos os meses. “Da mesma forma que o trabalho acadêmico não pode ser copiado sem citar a fonte corretamente, o conteúdo legalmente protegido não deve ser usado sem obedecer a certas regras”, diz Mauricio. “Estamos usando as ferramentas disponíveis em plataformas on-line para denunciar o uso não autorizado de nossos personagens. Por exemplo, o YouTube tem mecanismos muito eficientes para identificar o uso não autorizado de conteúdo e impedir que seja publicado.”

Nos últimos 60 anos, a MSP cresceu com base na proteção dos direitos de propriedade intelectual no Brasil e em todo o mundo. Isto continuará no futuro.

Mauricio de Sousa

Muitos países têm implementado leis e regulamentos com vista à proteção dos interesses dos proprietários de direitos de PI, mas, segundo Mauricio de Sousa, “ainda temos um longo caminho pela frente”. O pêndulo do poder está lentamente balançando em direção aos proprietários de PI na mídia digital, mas muitos proprietários de conteúdos ainda precisam tomar medidas legais para impor seus direitos. Para Mauricio de Sousa, conscientizar o público sobre a necessidade de respeitar os direitos de PI é essencial.

Durante as comemorações do 60° aniversário da empresa, Mauricio de Sousa destacou a importância permanente da PI para a atividade empresarial da MSP. “Nos últimos 60 anos, a MSP tem-se expandido com base na proteção dos direitos de propriedade intelectual no Brasil e em todo o mundo. Isto continuará no futuro”.

A Revista da OMPI destina-se a contribuir para o aumento da compreensão do público da propriedade intelectual e do trabalho da OMPI; não é um documento oficial da OMPI. As designações utilizadas e a apresentação de material em toda esta publicação não implicam a expressão de qualquer opinião da parte da OMPI sobre o estatuto jurídico de qualquer país, território, ou área ou as suas autoridades, ou sobre a delimitação das suas fronteiras ou limites. Esta publicação não tem a intenção de refletir as opiniões dos Estados Membros ou da Secretaria da OMPI. A menção de companhias específicas ou de produtos de fabricantes não implica que sejam aprovados ou recomendados pela OMPI de preferência a outros de semelhante natureza que não são mencionados.