Agritech brasileira JetBov digitaliza a gestão rural, gerando lucros para pecuaristas e promovendo sustentabilidade
Monica Miglio Pedrosa, escritora freelance
O agronegócio brasileiro gerou US$ 102,4 bilhões em exportações entre janeiro e outubro de 2021, segundo relatório da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA). Na esteira dessa tendência de crescimento, dados do relatório Distrito Mining Report – Agtech 2021, elaborado pela plataforma de inovação aberta Distrito, mostram que, de 2009 para cá, os investimentos em startups brasileiras de agritech superaram a marca de US$ 160 milhões. Uma dessas startups é a JetBov, agritech fundada em 2014 por Xisto Alves de Souza Jr. que oferece uma solução de tecnologia de gestão para mais de 2,7 mil pecuaristas em todas as regiões do Brasil.
A plataforma e o aplicativo da JetBov permitem que os pecuaristas controlem com maior eficácia o peso, a saúde e o ciclo reprodutivo de seus rebanhos. Uma vez coletados por meio do aplicativo JetBov, os dados são sincronizados com a plataforma em nuvem da empresa, gerando informações úteis para a otimização da gestão da propriedade. Além disso, a plataforma utiliza algoritmos e aprendizado de máquina para simular cenários preditivos que auxiliam na tomada de decisões pelos gestores.
A JetBov oferece seu software como um serviço (SaaS, na sigla em inglês), comercializando-o por meio de canais de marketing digital, abordagem que exige uma eficiente estratégia de desenvolvimento e gestão de marca. Xisto Alves de Souza Jr. só se deu conta da importância de registrar a marca JetBov em 2016, ao participar de um programa de treinamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), cerca de dois anos após ter criado a empresa.
Tempos depois de ter depositado um pedido de registro junto ao Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI), Alves de Souza foi surpreendido por uma notificação judicial, demandando que a empresa alterasse seu logotipo. “Antes de lançar nosso site na internet, realizamos muitas pesquisas até chegar ao nome JetBov, mas não demos tanta atenção à imagem que usaríamos no logotipo e, sem querer, acabamos optando por uma bastante semelhante à de uma marca famosa. Aprendemos a duras penas como é importante prestar atenção, desde o início, em todos os aspectos da marca”, conta Alves de Souza
Como se deu a criação da JetBov?
Sou formado em administração de empresas, com foco em comércio exterior, e em 1996 comecei minha carreira como desenvolvedor de softwares na DataSul, que na época era uma das mais importantes desenvolvedoras brasileiras, operando no mercado de planejamento de recursos empresariais. Após alguns anos prestando consultoria como sócio em uma das subsidiárias da DataSul, abri minha própria empresa de consultoria, gestão de projetos e processos e planejamento estratégico, em que atuei entre 2003 e 2014. Então, em 2014 eu fundei a JetBov. A inspiração veio da família da minha esposa. Ela é veterinária e a família dela tem algumas fazendas de gado de corte. Quando os visitava, eu reparava que a gestão de processos deles era toda manual e que eles tinham dificuldades com aspectos relacionados à organização, controle e gestão das fazendas. Enxerguei ali uma oportunidade de usar a tecnologia para otimizar os processos.
Fale um pouco sobre o desenvolvimento dos serviços que a JetBov oferece.
Começamos com a percepção de que havia uma necessidade de coletar dados básicos. Nas fazendas da família da minha mulher, as informações ainda eram registradas à mão em cadernetas de campo. Por isso, passei o ano de 2014 inteiro tentando entender as necessidades e preocupações diárias das propriedades. No ano seguinte, desenvolvemos a solução e validamos o protótipo do aplicativo JetBov. Quando começamos a comercializar o serviço em nosso site, por meio do sistema de assinaturas, estipulamos inicialmente um valor de R$ 90 (aproximadamente US$ 15) mensais.
Que tipos de propriedade usam o aplicativo JetBov?
O serviço está disponível para fazendas de gado de corte de todos os portes. Desenvolvemos uma metodologia de gestão simples e intuitiva para ajudar os pecuaristas a adotar práticas que os auxiliem no monitoramento dos rebanhos. O primeiro passo é identificar cada animal com brincos de radiofrequência. É uma tecnologia que vem se popularizando rapidamente e facilita a coleta automatizada de dados, possibilitando, por exemplo, monitorar o peso, a saúde e a situação vacinal de cada animal. Os dados são registrados no aplicativo, que foi pensado para poder operar sem conexão com a internet, já que muitas fazendas não têm cobertura de rede em suas pastagens. Posteriormente, o pecuarista se conecta com a internet para sincronizar o aplicativo com a plataforma em nuvem da JetBov. Isso pode ser feito na sede da fazenda ou na cidade, dependendo da infraestrutura da propriedade. Os algoritmos da plataforma analisam os dados e os convertem para um formato que oferece aos gestores uma visão detalhada do desempenho e lucratividade de cada animal, permitindo que tomem as decisões que melhor contribuam para a saúde financeira do negócio.
Que outras informações o software da JetBov fornece aos pecuaristas?
Com o processamento na nuvem dos dados coletados pelo aplicativo, os pecuaristas podem acompanhar todas as fases do ciclo de vida dos rebanhos, da cria e engorda à venda, além de ter uma visão panorâmica sobre aspectos como fluxo de caixa, condições do pasto e uso da terra.
Em um dos nossos planos, os assinantes têm acesso a imagens de satélite de suas pastagens para que possam tomar decisões mais adequadas em relação à intensividade do uso da terra. Com as informações estruturadas oferecidas pela plataforma, as decisões dos gestores ganham agilidade e segurança.
Como a JetBov contribui para tornar as fazendas mais sustentáveis?
Nossa tecnologia ajuda os pecuaristas a aumentar sua produtividade e seus lucros e, ao mesmo tempo, contribui para tornar a pecuária de corte mais sustentável ao possibilitar a otimização do uso da terra e permitir que os gestores ajustem a intensividade do uso de determinadas áreas. Em 2021, fomos considerados pela iniciativa Smart Farm Mapa Conecta uma das três melhores startups do AgroBIT Brasil, maior evento de tecnologia e inovação em agronegócio do Brasil. Além disso, ficamos entre as três empresas selecionadas para concorrer ao prêmio do público no Thrive Latam Challenge.
Em que momento você decidiu registrar a marca da empresa?
No início de 2016, quando estávamos começando a comercializar os nossos serviços, eu e meus dois sócios participamos de um programa de treinamento do SEBRAE chamado Startup SC, que se destinava a fundadores e gestores de startups. Foi durante esse curso que aprendemos um pouco sobre propriedade intelectual (PI) e registro de marcas. Como a promoção dos nossos serviços é feita exclusivamente através do marketing digital, compreendemos que seria fundamental registrar o nome JetBov para proteger a nossa marca. Quando lançamos o site da JetBov, em 2015, realizamos pesquisas na internet para verificar se esse nome de domínio estava disponível no NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil) e criamos perfis nas principais redes sociais, mas foi só depois de participarmos do curso do SEBRAE que nos demos conta da importância de registrar a nossa marca.
Estar atento a todos os aspectos do seu logotipo é tão importante quanto realizar pesquisas e verificar a disponibilidade do nome da sua empresa.
Como foi o processo de registro da marca?
Registramos a marca por meio de uma parceria com a ACE Startups, uma aceleradora de São Paulo que presta serviços de assessoria jurídica às startups de seu ecossistema. O departamento jurídico da ACE depositou o pedido no INPI em 2017 e estava tudo correndo bem até que recebemos uma notificação judicial, expedida a pedido de uma marca famosa do setor de bebidas energéticas, advertindo-nos que não podíamos usar o logotipo da JetBov por ser muito parecido com o deles.
E o que aconteceu?
Resolvemos mudar o nosso logotipo. No fundo, é uma história interessante, porque, como eu disse antes, nós tínhamos realizado pesquisas exaustivas sobre o nome da empresa quando lançamos nosso site, mas não prestamos atenção suficiente à imagem que escolhemos para o logotipo. E o resultado foi que, sem percebermos, acabamos usando uma imagem parecida com a de uma marca famosa. Foi uma lição importante e serve de alerta para outros empreendedores que estão iniciando sua jornada. Estar atento a todos os aspectos do seu logotipo é tão importante quanto realizar pesquisas e verificar a disponibilidade do nome da sua empresa. Em 2018, realizamos uma nova rodada de captação de investimentos com a gestora SP Ventures, e uma das coisas que eles quiseram saber foi se a nossa marca estava registrada no INPI. O registro da marca não era necessariamente um pré-requisito para a decisão de investimento deles, mas ajudou – e mostra a importância de você se antecipar aos problemas nesse processo.
A JetBov tem planos de se expandir para outros mercados?
Temos clientes em Angola, na Bolívia, em Moçambique, no Paraguai e no Uruguai. São pecuaristas que nos encontraram na internet e contrataram nossos serviços. Pretendemos nos internacionalizar no futuro, mas por ora nosso principal foco é o mercado brasileiro, que é um dos maiores do mundo, de modo que temos muito espaço para expandir nossas operações internamente.
Quais são os seus planos para o futuro e que tipo de evolução vocês projetam para a plataforma?
Até o momento, temos dobrado de tamanho anualmente e pretendemos continuar crescendo nesse ritmo. A empresa conta hoje com 47 funcionários. Em relação à plataforma, estamos investindo no uso de algoritmos e aprendizado de máquina para converter dados em inteligência, pois são inúmeras as variáveis envolvidas na criação de gado de corte. Essa fase do trabalho também envolve a fusão de informações das fazendas com dados de mercado. Futuramente, pretendemos nos integrar com outras plataformas e modelos de negócios para gerar ainda mais valor para os nossos clientes, simplificando suas operações de compra e venda de gado e também a obtenção de crédito.
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