Edward Kwakwa, Diretor-Geral Adjunto, Setor de Desafios e Parcerias Globais, e Minna Guigon-Sell, Diretora de Comunicação da WIPO GREEN
Em todas as regiões do planeta, as pessoas assistiram a mais um ano de mudanças climáticas de grande magnitude provocadas por eventos meteorológicos. Enchentes, secas e ondas de calor extremas afetam cada um de nós, sem exceção, e com incrível rapidez estão se tornando o “novo normal”. Mas nem tudo está perdido. Muitas soluções inovadoras nos dão motivos para otimismo, mostrando que somos capazes de nos adaptar e mitigar os efeitos mais devastadores das mudanças climáticas a fim de caminhar para um futuro com baixo teor de carbono.
Muitas soluções inovadoras nos dão motivos para otimismo e mostram que somos capazes de nos adaptar e mitigar os efeitos mais devastadores das mudanças climáticas a fim de evoluir para um futuro com baixo teor de carbono.
O Livro de Tecnologias Verdes, publicado pela OMPI no final de 2022, é um testemunho dos imensos esforços empreendidos no mundo todo para lutar contra as mudanças climáticas. A primeira edição dessa publicação anual destaca as tecnologias que já estão à nossa disposição para lidarmos com as consequências atuais das mudanças climáticas em nível global.
Apresentando mais de 200 soluções tecnológicas, o Livro de Tecnologias Verdes objetiva inspirar e incentivar as pessoas a encontrar as respostas mais adequadas aos problemas enfrentados localmente, um princípio extremamente importante para se chegar à melhor solução. As tecnologias apresentadas têm respaldo no banco de dados WIPO GREEN de tecnologias verdes e necessidades ecológicas.
O Livro de Tecnologias Verdes objetiva inspirar e incentivar as pessoas a encontrar as respostas mais adequadas aos problemas enfrentados localmente.
Quando o objetivo é combater as mudanças climáticas, não existe uma estratégia única que se aplique a todas as situações. Porém, uma coisa é certa: as soluções não precisam ser de última geração para dar resultados. Se forem adaptadas ao contexto local e a seus desafios específicos, medidas simples são geralmente a melhor opção e a mais eficiente. É por isso que o Livro de Tecnologias Verdes apresenta, lado a lado, soluções e tecnologias avançadas e outras extremamente simples.
O Livro de Tecnologias Verdes passa em revista os três setores mais duramente afetados pelas mudanças climáticas: agricultura e florestas; água e regiões costeiras; cidades. Ele propõe uma reflexão sobre como conviver com o impacto das mudanças climáticas quando elas afetam a maneira como cultivamos o campo, criamos o gado, usamos a água, ocupamos áreas litorâneas e projetamos nossas cidades.
Atividade vital para a segurança alimentar das populações, a agricultura contribui consideravelmente para a economia da maioria dos países, mas é também um setor extremamente vulnerável às mudanças climáticas. Por outro lado, é uma das atividades que mais produzem gases de efeito estufa.
Um dos problemas gerados pelas alterações nas condições meteorológicas é que elas boicotam os esforços para alimentar a população mundial, que aumenta sem parar. Essa seção do Livro de Tecnologias Verdes expõe diversas maneiras de garantir a segurança alimentar, em particular produzindo mais com menos insumos e com o menor custo possível para o meio ambiente. As soluções apresentadas abrangem desde técnicas locais nativas até a prática de agricultura urbana. Além disso, analisa os sistemas de alerta necessários ao monitoramento e à previsão dos impactos das mudanças climáticas.
Como explicado nessa seção, uma tecnologia eficaz pode revestir as mais variadas formas. Em algumas regiões, por exemplo, fazer valer os direitos das populações nativas de proteger e garantir o manejo da terra com base em conhecimentos tradicionais é sem dúvida uma das maneiras mais econômicas de reforçar a resiliência das florestas. Ao mesmo tempo, o uso de recursos digitais vem promovendo uma nova revolução agrícola e potencializando a eficiência e a produtividade do setor. Embora, globalmente, a integração desses princípios ainda não tenha atingido um nível satisfatório, cada um de nós, com um smartphone no bolso, terá acesso um número crescente de soluções adaptadas às suas necessidades.
A água é um elemento essencial à vida na Terra, mas é cada vez mais difícil obter água na quantidade certa e na hora certa: enquanto muitas comunidades litorâneas assistem a um aumento do nível das águas, outras enfrentam fenômenos climáticos extremos, advindos com frequência cada vez maior. Entre as soluções tradicionais mais comuns, estão a instalação de pilhas de sacos de areia e o realocamento das populações. Essa seção do Livro de Tecnologias Verdes analisa como essas medidas podem contribuir para a segurança das comunidades, com o respaldo de inovações que utilizam ferramentas avançadas de previsão.
Em algumas regiões, as fontes de abastecimento hídrico são raras ou poluídas. Tecnologias inéditas de tratamento das águas podem ajudar as populações a utilizar esse precioso recurso da melhor maneira possível, inclusive com a produção de água potável a partir de água do mar, empregando métodos que consomem menos energia do que as técnicas convencionais de dessalinização. Nas áreas afetadas por inundações seguidas por períodos de seca, as comunidades podem dispor de tecnologias que canalizam diretamente as águas das cheias para reservatórios aquíferos subterrâneos, de forma que possam ser usadas na época de estiagem. Existem, além disso, outras técnicas que exploram zonas úmidas naturais para atenuar o risco de inundações em determinadas áreas.
Não menos importantes, a acidez e o aquecimento crescentes dos oceanos requerem soluções inovadoras que preservem os ecossistemas marinhos. Por si só, a tecnologia não é capaz de vencer os desafios gerados pela degradação do ambiente marinho e da vida aquática, mas ela pode, sim, contribuir para proteger ecossistemas locais – por exemplo, com a criação de recifes artificiais e jardins de corais.
Mais da metade da população mundial vive em zonas urbanas que, não raro, sofrem as consequências de eventos climáticos extremos. Embora algumas técnicas simples – como ventiladores, isolação e sombreamento – ofereçam um certo alívio em relação a temperaturas cada vez mais altas, elas nada podem contra fenômenos meteorológicos devastadores resultantes das mudanças climáticas.
Felizmente, como explicado no Livro de Tecnologias Verdes, temos uma série de soluções à nossa disposição. Por exemplo, captação de água da chuva, sistemas de alerta que avisam os habitantes com antecedência sobre a iminência de enchentes, bem como o uso de sensores e de tecnologias de Internet das Coisas, associadas a sistemas de refrigeração com alto rendimento energético, que possibilitam a regulação inteligente da temperatura dos prédios. As soluções naturais, como a arborização urbana, também são importantes. A presença de árvores oferece muitas vantagens: elas refrescam o ambiente, produzem sombra e estabilizam a estrutura do solo, contribuindo para evitar deslizamentos de lama.
Mentes inovadoras, pela própria natureza, caracterizam pessoas que pensam diferente da maioria. Diante dos desafios urgentes que atualmente enfrentamos devido às mudanças climáticas, devemos dar todo o apoio a inventores e a mentes inovadoras, de forma que mais pessoas se empenhem para encontrar as soluções necessárias.
Diante dos desafios urgentes que atualmente enfrentamos devido às mudanças climáticas, devemos dar todo o apoio a inventores e a mentes inovadoras, de forma que mais pessoas se empenhem para encontrar as soluções necessárias.
O registro de direitos de propriedade intelectual (PI), como no caso de patentes, existe para incentivar os inventores a trabalhar em soluções revolucionárias, conferindo reconhecimento e recompensando seus esforços. Proteger uma tecnologia mediante o registro como patente ou segredo industrial constitui um primeiro passo importante para que os inventores obtenham reconhecimento, acesso ao mercado e remuneração por seu trabalho.
Ao depositar um pedido de proteção por patente, o requerente deve fornecer detalhes sobre a tecnologia em questão. Com essas informações, os examinadores de patentes podem avaliar se a tecnologia é realmente inédita, útil e aplicável e decidir se ela merece ser protegida por patente. Esses documentos relativos ao patenteamento constituem uma fonte preciosa de informações tecnológicas, com acesso disponível para empresas de todos os setores de atividades.
É interessante observar que, segundo o Índice Global de Inovação da OMPI (IGI), a maioria das tecnologias de adaptação às mudanças climáticas estão sendo desenvolvidas em países de alta renda, embora os que mais precisem dessas tecnologias sejam os países de menor renda.
Na verdade, há muitos casos de inventores em países de baixa renda que desenvolveram tecnologias eficazes de adaptação às mudanças climáticas. O problema é que raramente eles conseguem um lugar ao sol no mercado global. Por isso, é necessário que os países criem ecossistemas de inovação eficazes – respaldados por um regime de propriedade intelectual sólido –, que sejam capazes de promover a inovação, de acompanhar seu lançamento no mercado e de garantir que as tecnologias cheguem às mãos de quem realmente precisa delas.
Muitas tecnologias de adaptação são patenteadas em apenas meia dúzia de países, e pouquíssimas são transferidas para economias de baixa renda.
Embora a transferência de tecnologia nem sempre seja fácil, o registro de direitos de propriedade intelectual pode facilitar o processo, […] clarificando as questões de propriedade, fortalecendo a posição dos inventores nas negociações e contribuindo para atrair financiamentos e parcerias de investimento.
Embora a transferência de tecnologia nem sempre seja fácil, o registro de direitos de propriedade intelectual pode facilitar o processo. Por exemplo, clarificando as questões de propriedade, fortalecendo a posição dos inventores nas negociações e contribuindo para atrair financiamentos e parcerias de investimento. A transferência de tecnologia pode também ser realizada por outras vias, por exemplo entre universidades e empresas. No entanto, nem sempre é fácil monitorar essas transações e saber se as tecnologias inovadoras de adaptação às mudanças climáticas estão efetivamente chegando às comunidades que mais precisam.
A adaptação às mudanças climáticas é uma das bases do trabalho e da cooperação nacional e internacional no campo do desenvolvimento. Exigindo um compromisso no sentido de garantir os recursos necessários para enfrentar os desafios das mudanças climáticas, pressupõe também um esforço para fortalecer as comunidades e torná-las mais inventivas, de forma que sejam capazes de enfrentar os desafios com autonomia.
Todos os países saem ganhando, individual e coletivamente, quando investem continuamente no desenvolvimento de seus ecossistemas nacionais de inovação. Contudo, em se tratando de apoiar a inovação com vistas à adaptação às mudanças climáticas, a prioridade sempre deve ser o contexto local.
A obtenção de verbas para financiar a implementação de soluções ecológicas é um constante desafio. Na maioria dos países de baixa renda, é sem dúvida o setor agrícola o que mais requer investimentos. Por quê? Porque, se por um lado a agricultura é essencial à segurança alimentar, muitas vezes constituindo um dos pilares da economia desses países, por outro lado é a atividade que mais sofre as consequências das mudanças climáticas.
A obtenção de verbas para financiar a implementação de soluções ecológicas é um constante desafio.
Atualmente, a maior parte dos recursos financeiros destina-se a medidas de mitigação das mudanças climáticas. Embora existam indícios de que a situação está evoluindo à medida que o impacto das mudanças climáticas fica mais evidente, ainda há uma grande necessidade de investimentos para financiar projetos de adaptação às mudanças climáticas.
A humanidade sempre encontrou formas de sobreviver e se adaptar a fenômenos meteorológicos extremos e a climas rigorosos. No entanto, hoje enfrentamos uma realidade totalmente nova, resultante da ação humana, à qual a adaptação talvez nem sempre seja possível. Embora nenhuma tecnologia possa fazer milagres, a engenhosidade humana e nossa capacidade de superar desafios – a julgar pelas inúmeras soluções disponíveis atualmente – nos dão o direito de ser otimistas. Onde existem ideias e inovação, existe esperança.
Onde existem ideias e inovação, existe esperança.
Com o Livro de Tecnologias Verdes, você descobrirá o que pode fazer hoje mesmo para ajudar a enfrentar esses desafios. Mostrando que existem soluções ao alcance de qualquer pessoa para combater as mudanças climáticas, ele almeja incentivar o compartilhamento dessas tecnologias da forma mais ampla possível e convida as pessoas, empresas e autoridades a se tornarem parte integrante da solução.
A edição 2023 do Livro de Tecnologias Verdes, que será lançada por ocasião da UNFCCC COP 28 (Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), prevista para dezembro de 2023 nos Emirados Árabes Unidos, terá como destaque as tecnologias de mitigação das mudanças climáticas.
A WIPO GREEN está selecionando atualmente as tecnologias que serão apresentadas nessa próxima edição. Caso você disponha de uma inovação que gostaria de compartilhar no Livro de Tecnologias Verdes 2023, pedimos que a insira no banco de dados WIPO GREEN.
Estamos também compilando tecnologias de adaptação às mudanças climáticas, a fim de adicioná-las ao banco de dados. A integração de tecnologias à plataforma WIPO GREEN é inteiramente gratuita. Todas as tecnologias apresentadas são disponibilizadas para buscas e eventuais colaborações.
A Revista da OMPI destina-se a contribuir para o aumento da compreensão do público da propriedade intelectual e do trabalho da OMPI; não é um documento oficial da OMPI. As designações utilizadas e a apresentação de material em toda esta publicação não implicam a expressão de qualquer opinião da parte da OMPI sobre o estatuto jurídico de qualquer país, território, ou área ou as suas autoridades, ou sobre a delimitação das suas fronteiras ou limites. Esta publicação não tem a intenção de refletir as opiniões dos Estados Membros ou da Secretaria da OMPI. A menção de companhias específicas ou de produtos de fabricantes não implica que sejam aprovados ou recomendados pela OMPI de preferência a outros de semelhante natureza que não são mencionados.