Quantas vezes já ouvimos histórias de como uma ideia engenhosa para sanar determinado problema acabou virando a solução perfeita para algo que o inventor nem havia imaginado? Foi assim que o fascínio do pesquisador sul-africano Amir Patel pela rapidez do guepardo (ou chita) e a capacidade do animal para fazer manobras em alta velocidade acabaram levando o pesquisador para a área de saúde. Ao conceber métodos para entender como o guepardo se move, Amir criou um mecanismo mais barato e acessível para auxiliar na reabilitação de pacientes vítimas de lesões ou acometidos de doenças neurológicas.
A trajetória de inovação de Amir Patel nasceu de sua pesquisa sobre a locomoção dos animais e, mais particularmente, de seu fascínio pela velocidade e a capacidade de efetuar manobras do guepardo (Acinonyx jubatus), o animal mais rápido do planeta. O felino é capaz de atingir velocidades de 80 a 130 km/h.
Professor associado do Departamento de Engenharia Elétrica da Faculdade de Engenharia e Ambiente Construído da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, Amir explica: “Minha pesquisa consiste em entender como animais e seres humanos se movem. Desenvolvi várias tecnologias com este objetivo e, além disso, tenho um interesse particular no guepardo.”
O pesquisador usa a robótica e diversas técnicas, como a fusão de sensores, o controle ótimo e experimentos físicos para entender a neuromecânica que torna o guepardo e outros animais capazes de se deslocar e fazer manobras em alta velocidade.
“Meu fascínio pela maneira como o guepardo se locomove e a pesquisa que realizei sobre o assunto deram origem a várias inovações em robótica e aprendizado de máquina (inteligência artificial),” conta Amir.
“Queríamos calcular a força de contato no solo criada pelo guepardo. Para isso, tive de desenvolver um novo método de medição, uma vez que os utilizados atualmente são caríssimos. [...] Tivemos que inventar vários dispositivos para entender como o guepardo se move e sua capacidade de gerar forças no solo e mudar de direção, fazendo todas aquelas manobras espetaculares em alta velocidade”, explica Amir.
Seu trabalho revolucionário na área de detecção animal resultou em duas patentes de sensores com aplicações na biomecânica humana.
“Minhas invenções são, digamos, um tanto acidentais. Reconheço que não comecei dizendo que queria inventar um aparelho a ser usado no setor da saúde”, diz ele, observando que a locomoção do guepardo é um problema tão complexo e desafiador que ele não teve outra opção a não ser “inovar e propor novas ideias”.
Durante o processo, explica: “Inventei uma nova maneira, muito mais barata, de detectar a força tridimensional, o que resultou na invenção de um mecanismo muito mais acessível para fazer a reabilitação de pacientes, portanto, para uso em ortopedia ou no tratamento de qualquer tipo de doença neurológica que requeira reabilitação com uma placa de força tridimensional. Graças à minha invenção, espero que possamos tornar a reabilitação mais acessível a todos.”
O perfil de Amir Patel é destaque na Galeria de Jovens do Dia Mundial da Propriedade Intelectual.
Em comparação com os países desenvolvidos, talvez não tenhamos todos os recursos necessários, no entanto temos ideias incríveis, e a PI é um mecanismo que protege essas ideias para que possam exercer seu impacto em âmbito mundial.
Enquanto pesquisador, a principal preocupação de Amir era redigir e publicar artigos científicos. Até o momento, já publicou 20 artigos nas cinco principais revistas sobre Robótica e Visão Computacional, foi coautor de um artigo na revista on-line Nature Protocols e de uma matéria de capa no Journal of Integrative and Comparative Biology (ICB). No entanto, ele agora também está consciente da necessidade de refletir sobre como proteger as inovações provenientes da pesquisa, graças à propriedade intelectual (PI).
A PI, “na verdade, fornece um mecanismo para caracterizar essa inovação e maximizar seu impacto. E a melhor maneira de fazer isso é por meio de uma patente”, indica. “Até o momento, tenho duas patentes, e funciona assim: pegamos a pesquisa bacana que estamos fazendo e a transformamos em algo que possa ser protegido, vendido e utilizado por uma empresa, e, deste modo, gerar mais empregos, e só então divulgamos a invenção para o mundo inteiro”.
“Em comparação com os países desenvolvidos, talvez não tenhamos todos os recursos necessários, no entanto temos ideias incríveis, e a PI é um mecanismo que protege essas ideias para que possam exercer seu impacto em âmbito mundial”, explica Amir.
Ao falar sobre as consequências de se ignorar a PI, o pesquisador afirmou: “O risco de desconhecer os direitos de PI é que alguém pode roubar sua ideia, e isso é realmente frustrante. Você pode então descobrir que alguém a explora e usa de uma maneira que não era seu objetivo. Consciente disso, aprendi que é preciso patentear primeiro e publicar a ideia só depois.
Amir e sua equipe estão em fase de criação de uma nova empresa, a Acino Technologies, para promover e comercializar as plataformas de força desenvolvidas com o intuito de avançar na sua pesquisa sobre o guepardo destinada a todos que precisam delas para fins de reabilitação e/ou treinamento.