O jovem cineasta e escritor indonésio Andara (Andra) Fembriarto adora mostrar o patrimônio cultural da Indonésia nas telas. Na última década, ele concentrou todo o seu talento criativo no desenvolvimento de uma grande variedade de obras educativas e de entretenimento, como séries para a internet, filmes e romances que celebram o rico patrimônio cultural da Indonésia.
Fembriarto cresceu no maior arquipélago do mundo e, assim, aprendeu cedo que seus ancestrais eram navegantes, o que despertou um desejo íntimo de se conectar às suas raízes marítimas, às tradições e à espiritualidade das comunidades marítimas da Indonésia.
Depois de percorrer vários vilarejos costeiros nas ilhas de Wakatobi (Bajo Mola) e Lembata (Lamelera) durante uma viagem de trabalho, ele se inspirou no que tinha visto e vivenciado e começou a escrever um romance de fantasia, Galeo of The Seawalkers (Galeo Anak Segara).
O romance retrata os dramas e conflitos pessoais que afetam a vida da comunidade imaginária dos Caminhantes Marítimos e conta a história de Galeo, um jovem pescador que é capaz de caminhar sobre a água, mas tem pavor dos perigos do mar. Quando sua irmã mais nova foge de casa para perseguir os fantasmas do mar, acreditando que vão levá-la a seu pai desaparecido, Galeo não tem escolha a não ser superar os seus medos e ir atrás dela.
Fembriarto explica que as referências do romance à cultura indonésia são alegóricas. O livro faz alusão a muitas tradições marítimas da Indonésia, incluindo, por exemplo, os ritos de passagem que ocorrem no mar e a importância das reuniões sociais. “Abordei Galeo of The Seawalkers como O Senhor dos Anéis e Raya e o Último Dragão. Não fiz referência explícita a nenhuma comunidade real da Indonésia, só me inspirei nessas comunidades e refleti seus valores intrínsecos na minha história” explica, assinalando que “muitas das inspirações culturais para o romance podem ser encontradas no apêndice do livro.”
Vídeo: A inspiração de Andra Fembriarto para escrever Galeo of The Seawalkers veio da Tribo Bajo, composta de nômades marítimos que vivem em casas flutuantes perto das quatro ilhas de Wakatobi, a sudeste de Célebes (Sulawesi). Seu lema, “Luma kami padi Lau”, significa “O nosso lar é no mar”.
Atualmente, Galeo of The Seawalkers está sendo adaptado para uma série em quadrinhos, em inglês, mas Fembriarto sempre quis transformar seu romance em um filme. Em 2021, com limitações para viajar a trabalho devido à pandemia de covid-19, Fembriarto decidiu concretizar o seu sonho e começou a criar um curta-metragem de animação chamado Splish Splash (Cipak Cipuk), baseado em seu livro. O filme conta a história de dois irmãos forçados a lutar contra piratas que tentam roubar de sua família o precioso colar Pérola do Sol.
“Passei mais de dez anos imaginando o enredo de Galeo of The Seawalkers. É uma conquista dar vida aos personagens em forma de animação”, afirma, ressaltando o potencial da história para virar um longa-metragem ou uma longa série de TV.
Ao dirigir Splish Splash, Andra formou uma equipe que reunia criadores da Indonésia ocidental e oriental para trabalhar no projeto, que foi concluído em cerca de seis meses. Em todas as etapas, desde a elaboração do storyboard até a pós-produção, passando pela animação dos personagens, Andra colaborou com animadores de diversas regiões, de Malang, na província de Java Oriental, até Kupang, no Timor Ocidental, por meio de chamadas de vídeo.
“A colaboração para fazer Splish Splash foi muito particular, pois ninguém se conhecia pessoalmente, nem os animadores, nem os dubladores, nem os produtores. Eu também não conhecia nenhum deles pessoalmente. Tive muita sorte em trabalhar com artistas talentosos e profissionais que estavam empolgados em participar do projeto,” explica Fembriarto.
“Queria criar uma versão animada do romance e não poderia estar mais grato nem mais emocionado por todo o reconhecimento e por todo o apoio que meu projeto recebeu”, afirma.
“O maior desafio para fazer Splish Splash foi a obtenção de financiamento,” explica Fembriarto, lembrando que os recursos iniciais para o filme vieram de sua irmã, que vive em Melbourne, na Austrália. “O Studio Amarana escreveu o roteiro, fez o storyboard e desenvolveu a animação, e o estúdio ORRO Animation, situado em Malang, na província de Java Oriental, produziu a animação. O design de som e a música foram criados por Elwin Hendrijanto e Reyner Ferdinand em Jacarta, assim como a pós-produção, feita pelo Visi8 Studio,” assinala Fembriarto.
Ao refletir sobre os momentos mais memoráveis do projeto, o cineasta relembra um incidente ocorrido quando estava trabalhando com a Kupang Film Community, por chamada de vídeo, na fase de pós-produção. “Eu estava trabalhando com a Kupang Film Community por chamada de vídeo e tinha que dirigir os dubladores. Infelizmente, faltou luz naquele dia, então os atores tiveram que ler o diálogo em um estúdio escuro, iluminado por celulares e por uma tela de computador.”
Desde que foi finalizado, Splish Splash tem sido exibido em diversos festivais de cinema e workshops no mundo inteiro, incluindo o Festival de Curtas da Austrália e da Indonésia, ReelOzInd, realizado na Austrália em 2021; o Festival de Cinema Asiático de Vancouver, organizado no mesmo ano no Canadá, além do Festival Internacional de Animação AnimaFilm, ocorrido no Azerbaidjão em 2021.
Splish Splash ganhou o prêmio de Melhor Curta de Animação na edição de 2022 do Festival Piala Maya, na Indonésia. Atualmente, o filme está sendo usado como material didático em aulas de língua e cultura indonésia em várias escolas de Melbourne, na Austrália.
A pandemia de covid-19 reduziu o ritmo de crescimento da indústria cinematográfica da Indonésia, mas o setor está se recuperando bem, e uma nova geração de cineastas está crescendo e contando as próprias histórias. A indústria nacional de filmes de animação, por sua vez, ainda está dando os primeiros passos e, apesar da falta de financiamento e de animadores experientes, Andra está otimista em relação ao futuro do setor. “Felizmente, a indústria de curtas de animação está em ascensão e crescendo bem graças às mídias sociais, e Splish Splash está contribuindo para essa expansão”, afirma.
Graças a um programa apoiado pelo governo, Fembriarto pôde tomar conhecimento dos benefícios da PI para os criadores. “Felizmente, na Indonésia, há um workshop sobre PI apoiado pelo governo, o Katapel ID, que está ajudando os criadores indonésios a desenvolver uma mentalidade empresarial em relação à PI que detêm”, explica. Com base nesse treinamento, o cineasta reconheceu a importância de registrar seu romance na Diretoria-Geral de Propriedade Intelectual da Indonésia.
Na maioria dos países, a proteção dos direitos de autor é obtida automaticamente, dispensando o registro e outras formalidades, em conformidade com a Convenção de Berna para a Proteção de Obras Literárias e Artísticas. No entanto, em muitos países, incluindo a Indonésia, existem sistemas que foram implementados para permitir o registro voluntário de obras criativas. Esses sistemas podem ajudar a criar provas fidedignas de autoria e titularidade, evitar potenciais litígios e facilitar transações financeiras, vendas, cessões e outras formas de transferência de direitos.
Fembriarto pretende transformar o curta Splish Splash em uma série em quadrinhos e o romance Galeo of The Seawalkers em um longa-metragem. O projeto do filme baseado no livro já foi apresentado em vários fóruns de financiamento de filmes, como o Akatara, na Indonésia, e o Holland Film Meeting, nos Países Baixos. O Visi8 Studio comprou os direitos de realização e distribuição da versão em quadrinhos de Galeo of The Seawalkers e contratou o artista Kevin VanHook, veterano no ramo, como editor responsável. A obra deve ser distribuída nos Estados Unidos em 2023. Além disso, Fembriarto assinala que “Galeo of The Seawalkers está disponível para licenciamento e outras formas de colaboração no mundo inteiro.”
Para Fembriarto, seu romance constitui um meio de promover a cultura da Indonésia e despertar o interesse do público internacional em conhecer o seu país. “Essa história de fantasia pode ser uma porta de entrada para despertar a curiosidade das pessoas do mundo inteiro a respeito da Indonésia, assim como o filme O Senhor dos Anéis, por exemplo, convidou o mundo para conhecer a Nova Zelândia”, afirma.
Andra Fembriarto também é conhecido pela criação dos curtas The Lightdancer (2017), Pohon Penghujan / The Raining Three (2013) e Sinema Purnama / Moonlight Cinema (2012).