YiGa Chocolate, do Butão: como de uma receita de bolo de 6 minutos brotou um sucesso comercial

No Butão, é preciso ter garra, determinação e criatividade empreendedora para passar de uma receita de bolo de seis minutos à produção de chocolate artesanal premium. Foi assim que teve início a empolgante aventura comercial da YiGa Chocolate, empresa criada por Kinley Pelden, que conseguiu assim realizar as ambições da filha: fabricar chocolate e abrir um negócio de fabricação de chocolate artesanal na cidade de Thimphu, Butão.

Aquilo que começou de uma atividade corriqueira – a preparação de um bolo a partir da receita criada pela própria Kinley para sua filha – e de uma sugestão feita por essa filha, para tentar fazer chocolate com ingredientes locais, desencadeou uma série de experimentos. Cerca de três anos depois, Kinley criou a YiGa Chocolate, uma empresa que tem hoje quatro funcionários contratados e um faturamento anual de BTN 3 milhões (aproximadamente US$ 39.000).

A reinvenção do chocolate no Butão

A primeira incursão de Kinley, acompanhada da filha, pelo universo da fabricação de chocolate fez-se com cacau em pó, leite e açúcar caramelizado. “O chocolate ficou delicioso, mas depois de três dias no congelador, continuava pastoso. Insatisfeita com o resultado, fui pesquisar o básico no Google e aprendi a moldar o sucedâneo de chocolate que é normalmente utilizado em confeitaria”, explica ela.

O processo fascinou-a. Kinley foi ficando cada vez mais curiosa e começou a explorar maneiras de fazer chocolate fino acrescentando frutas naturais silvestres e especiarias, populares no Butão, para criar barras de chocolate supersaudáveis. A YiGa Chocolate emprega um processo simples de temperamento aliado à infusão de uma mistura única de ingredientes butaneses provenientes de mercados locais, tais como: pimenta malagueta, espinheiro marítimo e nozes de Thimphu, a maior cidade do país; cardamomo do distrito de Tsirang, sudoeste do país; e groselha amla, cáqui e cítricos de Punakha, no oeste. Também entra na elaboração de alguns dos chocolates um licor produzido no Butão. A cobertura de chocolate e as avelãs que Kinley utiliza são importadas.

Após consultar várias pessoas para tirar seu negócio do papel – sem, no entanto, suscitar grande interesse – Kinley Pelden decidiu se lançar sozinha em abril de 2017, quando começou a produzir sua própria marca de chocolate local. Na mesma época, o país assistia a uma mudança emergente no panorama de consumo, em favor de artigos personalizados produzidos em poucos lotes, com impacto ambiental mínimo e alto valor social, o que trouxe oportunidades significantes para a empresa recém-criada.

O negócio de Kinley desenvolveu-se graças ao apoio da Loden Foundation, uma organização da sociedade civil butanesa registrada que promove a educação e o empreendedorismo social, bem como a cultura e as tradições do país. A YiGa Chocolate contou com financiamento do fundo de investimento Loden-DHL (Druk Holding & Investment), que apoia jovens empreendedores butaneses empenhados em desenvolver empresas com base nos conhecimentos culturais e nos valores ecológicos e éticos do Butão. A Fundação concedeu a Kinley um empréstimo de BTN 500.000 (US$ 6.000), o suficiente para cobrir os custos de uma máquina e de equipamentos básicos. A linha de chocolates finos artesanais de Kinley inclui chocolates em barra e trufas, além dos clássicos caraques e pralinas.

Nós atendemos às necessidades de conhecedores e consumidores preocupados com a qualidade dos alimentos e as implicações sociais e ambientais da obtenção de ingredientes e do processamento do chocolate.

Kinley Pelden, fundadora da YiGa Chocolate

Influência local e mundial da YiGa Chocolate

Ao ampliar a escolha de chocolates de alta qualidade para os consumidores, a YiGa Chocolate está incrementando o perfil e aumentando o valor de mercado do chocolate butanês, além de gerar empregos e apoiar fornecedores e comércios locais. A YiGa emprega atualmente cinco pessoas, incluindo a própria Kinley, e gera receitas para 10 fornecedores. A empresa também está trabalhando em parceria com uma distribuidora.

A YiGa Chocolate tornou-se muito popular entre turistas, viajantes butaneses, agentes de viagens e organizadores de eventos. A empresa vende hoje seus produtos em 15 pontos de vendas, que incluem cafés, supermercados com o Chuniding Foods e o saguão de partidas do Aeroporto Internacional de Paro, no Butão. A empresa também exporta 20 toneladas de chocolate todos os anos para revendedores na Alemanha, Coreia do Sul e Estados Unidos.

A YiGa Chocolate está fortalecendo sua marca melhorando a embalagem e reforçando o seu processo de transformação dos grãos orgânicos em barras de chocolate, chamado “bean-to-bar”. O que existe de melhor na indústria chocolateira, esse processo bean-to-bar significa que o fabricante elabora o chocolate desde os grãos de cacau crus e controla cada etapa do processo de fabricação. No processo bean-to-bar, são os próprios fabricantes de chocolate artesanal que limpam, torrem, partem, catam e moem os grãos de cacau, o que resulta num produto mais autêntico. Com a produção de chocolate bean-to-bar destinado ao mercado de exportação, a propriedade intelectual (PI) passou a ser uma preocupação central para a YiGa Chocolate.

Vídeo: Como fabricante de chocolate pioneira, a YiGa Chocolate, está se preparando para o sucesso no mercado mundial de exportação de artigos de confeitaria.

Proteger a propriedade intelectual para se preparar para o futuro

À medida que a YiGa amplia sua capacidade de exportação, proteger seu logo, suas receitas e outros desenhos vem se tornando cada vez mais importante. Kinley depositou um pedido de registro da marca YiGa Chocolate no Departamento da Propriedade Intelectual do Butão, em 2018. A marca é muito usada nas embalagens da empresa, em sites, artigos de papelaria e plataformas de mídia. É graças a ela que os consumidores podem rapidamente identificar os produtos da YiGa Chocolate e distingui-los dos produtos dos concorrentes. O fato de deter os direitos sobre seus ativos de PI permitirá à YiGa Chocolate gerar receitas por meio do licenciamento e da cobrança de royalties.

Os talentos de empreendedora de Kinley Pelden foram reconhecidos em 2020, quando a empresária recebeu o Prêmio Nacional de Empreendedora do Ano, atribuído pelo Departamento das Indústrias Caseiras e de Pequena Escala (Department of Cottage and Small Industry – DCSI), vinculado ao Ministério dos Negócios Econômicos do Butão. O sucesso da empresa e sua política de PI estão gerando oportunidades de colaborações com outras empresas. Desde 2020, a YiGa Chocolate trabalha com a empresa social butanesa Mountain Hazelnuts, para produzir uma linha única de artigos de confeitaria à base de avelãs. Essa colaboração fundamenta-se no compromisso comum de alcançar um impacto social e ambiental para além da rentabilidade econômica.

A YiGa Chocolate participou de um workshop sobre o Sistema de Madri, organizado pelo Departamento da Propriedade Intelectual do Butão em colaboração com a OMPI. O Acordo de Madri relativo ao Registro Internacional de Marcas oferece uma opção conveniente e barata para as empresas que desejam registrar ou administrar seus direitos de marca em vários mercados-alvo. Com um único pedido e o pagamento de um único conjunto de taxas, os requerentes podem solicitar proteção em até 129 países. Podem também alterar, renovar ou ampliar seu portfólio de marcas internacionais por meio de um único sistema centralizado.

A YiGa Chocolate planeja continuar evoluindo como uma fabricante de chocolate dinâmica e inovadora, em linha com a essência dos princípios e preceitos butaneses de desenvolvimento.