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Tourism Inclusion for All: fomentando o empreendedorismo social em Uganda

Fevereiro de 2024

Anna Sinkevich, Divisão de Conhecimentos Tradicionais, OMPI

A empreendedora social ugandense Charlotte Kazoora trabalha para melhorar a vida de comunidades locais por meio de programas de treinamento em habilidades práticas, incluindo a criação e gestão de marcas. Em recente entrevista à Revista da OMPI, Kazoora explicou que seu empreendimento social, o Tourism Inclusion for All (TIFA), vem criando novas oportunidades de subsistência para comunidades locais de todas as partes de Uganda. Ela também falou sobre os desafios enfrentados pelas artesãs da região e como a propriedade intelectual (PI) é um elemento indissociável da sua consultoria empresarial.

As ferramentas de PI podem proteger os interesses das comunidades e agregar valor aos produtos que elas criam.

Desde 2017, Charlotte Kazoora trabalha com mulheres de Kalangala para ajudá-las a desenvolver habilidades técnicas e empresariais em cestaria, costura, tricô e bordados. (Foto: Kyokusiima Estella)

Como você começou a trabalhar com comunidades vulneráveis?

No início, percebi que essas comunidades precisavam de apoio e comecei a trabalhar com elas usando recursos financeiros próprios. Em 2016, vi por acaso um anúncio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para pessoas que queriam melhorar a vida de comunidades locais em áreas turísticas. Redigi uma proposta de projeto e consegui um subsídio de US$ 40 mil. Essa verba me permitiu criar quatro grupos: um grupo jovem especializado na produção de artesanatos feitos de chifres bovinos e três grupos de mulheres cesteiras.

No decorrer do projeto, percebi que muitas outras comunidades precisavam de um apoio assim. Pedi outro subsídio e venho trabalhando nessa área desde então.

Doação de kits básicos que incluem máquinas de tricô e costura
a mulheres da comunidade Kalangala, da Ilha Bugala, no âmbito do
projeto de Kazoora subsidiado pelo PNUD. (Foto: Kyokusiima Estella)

Como é seu trabalho de apoio à subsistência das pessoas de comunidades locais?

Meu empreendimento social, chamado TIFA, oferece a mulheres e jovens programas de treinamento em habilidades práticas em toda a cadeia de valor do turismo. Trabalhamos em pontos turísticos populares de Uganda, como as Montanhas Rwenzori, a Ilha Kalangala no Lago Victoria e o rio Nilo e lagos próximos no leste do país.

Também sou fundadora e CEO da SCECK Consultant, uma empresa que vende produtos criados por mulheres e jovens que participam dos programas de treinamento da TIFA. Sou contadora de formação e faço questão de garantir que nossos projetos tenham um forte foco empresarial.

Fale sobre as comunidades com as quais você está trabalhando.

Trabalho principalmente com comunidades das regiões oeste e central de Uganda. O público-alvo do projeto depende essencialmente das oportunidades existentes em cada ponto turístico. É sempre bom implementar um projeto em um ponto turístico famoso porque esses locais oferecem bom acesso ao mercado.

Geralmente chego às comunidades por meio das autoridades governamentais locais. É uma boa maneira de ganhar a confiança delas. As autoridades locais também podem ajudar a mobilizar a população local e identificar as famílias mais aptas para o trabalho.

Quais desafios as mulheres e jovens enfrentam nessas comunidades?

Para as mulheres, os maiores desafios são a pobreza, a violência doméstica e a desigualdade financeira. Esses fatores são produto das normas locais, como a crença de que a mulher não deve trabalhar. Estamos tentando mudar essa narrativa mostrando que a mulher pode ganhar dinheiro. E quando isso acontece, a vida da família melhora.

A maioria das meninas nunca frequentou a escola ou abandonou os estudos nos anos iniciais. Esse é um dos nossos maiores obstáculos.

A maioria das meninas nunca frequentou a escola ou abandonou os estudos nos anos iniciais. Esse é um dos nossos maiores obstáculos. Elas são excluídas de trabalhos mais bem remunerados, que exigem qualificações. O mesmo acontece com muitos meninos. Trabalho com meninas e meninos, principalmente os que abandonaram a escola.

Na prática, como você ajuda essas comunidades?

As comunidades que vivem nessas áreas turísticas são extremamente pobres, mas estão sentadas em uma mina de ouro. Como esses lugares são muito visitados por turistas locais e estrangeiros, há um potencial enorme para o desenvolvimento de negócios turísticos para as comunidades locais. O problema é que as comunidades não sabem como aproveitar esse potencial. Foi pensando nisso que criei um programa de treinamento centrado no desenvolvimento de habilidades e negócios. Atualmente, apoio mais de 300 mulheres assim.

As comunidades (...) nessas áreas turísticas são extremamente pobres, mas estão sentadas em uma mina de ouro.

Para poder alcançar e empoderar mais comunidades, decidi me associar à Associação de Mulheres Empreendedoras de Uganda. Com mais de 2 mil associadas, esse é um dos maiores grupos de mulheres empreendedoras do país. A participação na associação vem abrindo novas oportunidades para expandir nossos programas de empoderamento de mulheres e jovens. Também fico sempre de olho nos programas de subsídio disponíveis que nos permitirão apoiar mais comunidades.

E o que os programas de treinamento da TIFA envolvem?

Os programas da TIFA possuem três componentes principais. Primeiro, com a ajuda do governo local, identificamos e mobilizamos participantes. Depois, ensinamos habilidades práticas. Essa parte geralmente depende da comunidade e sua localização. Por fim, ensinamos habilidades empresariais básicas, como marketing e vendas, criação e desenvolvimento de marcas, contabilidade e gestão de registros. Por meio desses programas, mostramos às mulheres e jovens como vender seu artesanato. Essa etapa é crucial para dotá-los de meios para sair da pobreza.

Ensinamos habilidades empresariais básicas, como marketing e vendas, criação e desenvolvimento de marcas, contabilidade e gestão de registros.

Que tipo de artesanato as comunidades locais produzem?

O oeste de Uganda é conhecido pelo gado Ankole Longhorn, uma das raças mais antigas criadas pelos povos originários do país. Por isso, o chifre bovino é um dos principais materiais usados nessa região. As artesãs ainda utilizam métodos rudimentares para fazer artesanato com chifres. Elas usam máquinas para cortar os chifres e depois trabalham manualmente neles. Ainda não temos unidades de processamento para transformar o chifre em um produto final bem feito e acabado.

Na parte central de Uganda, as artesãs geralmente se dedicam à cestaria, costura e tricô. Elas usam materiais orgânicos disponíveis no local, como a fibra de banana e a ráfia.

Na parte central de Uganda, as artesãs geralmente se dedicam à cestaria, costura e tricô. Elas usam materiais orgânicos disponíveis no local, como a fibra de banana e a ráfia. Fazemos questão de incentivar o uso de materiais locais pelas comunidades, pois assim elas podem sustentar o trabalho que fazem. O ideal é que elas produzam uma quantidade mínima de produtos sem qualquer financiamento externo.

A comunidade de Bugoma, na ilha Bugaka, utiliza matéria-prima nativa para fabricar seus produtos durante as oficinas de treinamento. (Foto: Kyokusiima Estella)

Do que você mais gosta no seu trabalho?

É um trabalho muito gratificante. Dá para ver o impacto direto que ele tem nas comunidades. Por isso gosto tanto do que faço.

Alguma história de sucesso se sobressai?

Sim, são muitas, mas algumas são especiais. Primeiro, há uns cinco anos, comecei a trabalhar com aproximadamente 20 mulheres de Kalangala no programa “Modelo de Trabalho em Família”. Naquela época, as mulheres se concentravam quase que inteiramente em apoiar seus maridos e cuidar da casa. A maioria das crianças abandonava a escola.

Criamos um programa de treinamento para ensiná-las a produzir e vender cestas. Dois anos depois, essas mulheres têm empresas oficialmente registradas e, o mais importante, todas as crianças voltaram para a escola. Foi um resultado direto das habilidades que elas adquiriram ao participar do programa. Agora elas ensinam essas habilidades a familiares. A comunidade está começando a prosperar.

A segunda história é a de uma menina chamada Juliet, de uma comunidade de Kalangala. Ela havia abandonado a escola, perdido a autoconfiança e achava que o mundo havia acabado.

No início, ela não se interessava por cestaria. Era apaixonada por motocicletas, mas não tinha carteira de habilitação, nem dinheiro para comprar uma moto. Mesmo assim, participou do programa de treinamento e, graças a ele, conseguiu realizar seu sonho. Agora ela tem o orgulho de dizer que é dona de uma motocicleta. São muitas histórias incríveis de mulheres que melhoraram de vida e realizaram seus sonhos por meio da cestaria.

Qual é a importância dos conhecimentos tradicionais e da cultura para essas comunidades?

Na cestaria, as mulheres com quem trabalhamos tecem de uma maneira que retrata o ambiente local. Ao olhar a cesta, conseguimos identificar de qual parte do país ela veio. Por exemplo, as cestas tradicionais da sub-região de Ankole, no oeste de Uganda, refletem as montanhas daquele lugar. As mulheres as tecem na forma de cone. Por outro lado, as mulheres que vivem na região central de Uganda usam outra técnica. Lá as cesteiras reproduzem o Lago Victoria, de modo que os produtos são mais fluidos em forma, estilo e aparência, além de serem circulares.

A sensibilidade cultural pode fazer toda a diferença para o sucesso da implementação de um projeto.

Ao trabalhar com comunidades em Uganda, é essencial se familiarizar com suas normas culturais e saber o que se pode ou não fazer. Essa sensibilidade cultural pode fazer toda a diferença para o sucesso da implementação de um projeto. Antes de abordar uma comunidade, me dedico bastante a compreender seus aspectos culturais.

Integrantes da comunidade Kaese após um curso sobre criação
e gestão de marcas, controle de qualidade e padronização de produtos.
O grupo produz cestas orgânicas artesanaispara uso decorativo
e tradicional. (Foto: Kyokusiima Estella)

Como você aprendeu sobre propriedade intelectual?

Tive o primeiro contato com a propriedade intelectual (PI) há aproximadamente dois anos, por meio da Associação de Mulheres Empreendedoras de Uganda. Antes, eu achava que a PI só beneficiava grandes empresas. Nunca pensei que fosse algo importante para mim ou para as artesãs com quem trabalhava. Mas quando participei do Programa da OMPI de Formação, Mentoria e Parceria em Propriedade Intelectual para Mulheres Empreendedoras de Povos Originários e Comunidades Locais, aprendi que as ferramentas de PI podem proteger os interesses das comunidades e agregar valor aos produtos que elas criam.

Antes, eu achava que a PI só beneficiava grandes empresas. Nunca pensei que fosse algo importante para mim ou para as artesãs com quem trabalhava.

Os produtos das artesãs são vendidos sob uma marca ou individualmente?

Estamos em processo de registro da marca Kantu e seu logotipo. Kantu significa algo pequeno e bonito no idioma local. O registro da marca é nossa prioridade e só foi possível graças ao apoio da OMPI. Com o programa de formação da OMPI, conseguimos contratar um advogado local para nos ajudar com as formalidades do processo de registro. Enquanto aguardamos a conclusão desse processo, continuamos a vender nosso artesanato na internet por meio da SCECK Crafts.

Qual é o significado do logotipo da Kantu?

O logotipo representa uma mulher tocando tambor. É a nossa maneira tradicional de chamar as pessoas para se reunirem. Nosso objetivo é empoderar o máximo de mulheres possível, e como estamos reunindo as pessoas para melhorar suas vidas, achamos que o toque do tambor era um símbolo adequado.

Como vocês estão comercializando a marca?

Temos contratos de venda com vários hotéis locais, incluindo as lojinhas de pousadas de ecoturismo, que são basicamente hotéis construídos em parques nacionais ou áreas mais ricas. Esses hotéis atraem muitos turistas estrangeiros e são o nosso principal mercado.

O registro da marca é nossa prioridade.

Além disso, todos os meses organizamos um mercado a céu aberto onde nossas artesãs podem vender seus produtos diretamente aos clientes. Também temos clientes corporativos, mas suas necessidades costumam ser sazonais.

Recentemente inauguramos uma loja online que nos abriu muitas oportunidades novas. Foi o que nos salvou durante a pandemia de Covid-19, que atingiu em cheio o setor turístico. A pandemia foi um verdadeiro ponto de virada para nós, pois nos fez perceber que precisávamos abraçar o comércio eletrônico. O principal desafio da comercialização online, porém, é manter o ritmo e postar com a frequência necessária para fazer as pessoas retornarem ao nosso site. Hoje em dia preciso de alguém em tempo integral para gerenciar nossas redes sociais e o site.

O que você quer para o futuro da TIFA?

Muitas pessoas acham que quem não frequentou a escola não é inteligente. E isso simplesmente não é verdade. Muitas pessoas com quem trabalho nunca foram à escola, mas conseguem aprender qualquer coisa que quiserem. Se você sentar, conversar com elas e ensiná-las, elas virão com ideias e produtos incríveis. Elas só precisam de uma oportunidade para se expressar e aprender a implementar suas ideias. Precisam apenas de apoio e das habilidades que as ajudarão.

No futuro, me vejo criando um centro de treinamento de habilidades onde as comunidades locais vêm aprender técnicas novas para desenvolver seus produtos, que depois venderemos aos nossos clientes. Assim as pessoas poderão conhecer e admirar a cultura dessas comunidades.

Programa de Empreendedorismo para Mulheres de Povos Originários e Comunidades Locais

O Programa da OMPI de Formação, Mentoria e Parceria em Propriedade Intelectual para Mulheres Empreendedoras de Povos Originários e Comunidades Locais tem como finalidade fomentar atividades de empreendedorismo, inovação e criatividade relacionadas a conhecimentos tradicionais e expressões culturais tradicionais entre as mulheres. O programa busca capacitar essas empreendedoras com as habilidades e conhecimentos necessários para que usem a propriedade intelectual de forma estratégica e efetiva para apoiar as atividades empreendedoras de suas comunidades.

Desde seu lançamento em 2019, o programa já ajudou mais de 100 mulheres empreendedoras de povos originários e comunidades locais de 63 países. O programa de 2023-2024 encontra-se em andamento.

A Revista da OMPI destina-se a contribuir para o aumento da compreensão do público da propriedade intelectual e do trabalho da OMPI; não é um documento oficial da OMPI. As designações utilizadas e a apresentação de material em toda esta publicação não implicam a expressão de qualquer opinião da parte da OMPI sobre o estatuto jurídico de qualquer país, território, ou área ou as suas autoridades, ou sobre a delimitação das suas fronteiras ou limites. Esta publicação não tem a intenção de refletir as opiniões dos Estados Membros ou da Secretaria da OMPI. A menção de companhias específicas ou de produtos de fabricantes não implica que sejam aprovados ou recomendados pela OMPI de preferência a outros de semelhante natureza que não são mencionados.